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Revista do Projeto Pedagógico III - Trabalhando com Projetos 2. Passo a Passo, a Feira Vira um Sucesso Já no Ensino Fundamental, todos podem desenvolver e exibir experimentos inspirados em problemas reais As
feiras de Ciências evoluíram. Nos últimos cinco
anos, os professores inovaram a forma de planejar o evento e, conseqüentemente,
de os alunos produzirem e transmitirem o conhecimento. As mostras agora
são organizadas com propósitos didáticos. "Os
estudantes passaram a utilizar o método científico para
desenvolver seus inventos e não ficam mais atrás de uma
maquete, só repetindo informações tiradas do livro
didático", explica Roseli de Deus Lopes, vice-presidente
da Estação Ciência da Universidade de São
Paulo (USP). "O desafio que se apresenta é ampliar esse
foco para as séries iniciais do Ensino Fundamental", diz
a professora. A tarefa exige planejamento. Primeiro, é necessário
tornar a Ciência algo rico e instigante para todos. Os temas a
serem explorados não vão trazer avanços significativos
para a área - nem é esse o propósito. Os trabalhos
podem ser simples, desde que sejam criativos e façam sentido
para a garotada e a comunidade. 1)
Despertar o gosto pela Ciência Envolver
os pequenos no mundo da Ciência logo cedo e de forma prazerosa
é o primeiro passo para organizar uma boa mostra. No Colégio
Santo Américo, em São Paulo, faz parte da rotina, da 3ª
série em diante, freqüentar o laboratório de robótica
pelo menos duas vezes por semana, durante 50 minutos. Para a próxima
feira, que será realizada em agosto, eles estão construindo
pequenos aviões inspirados no centenário do vôo
do 14-Bis, de Santos Dumont. Com
muita paciência, todos copiam moldes em papel vegetal, reproduzem
o desenho em superfície plana, medem, cortam e colam a estrutura
da aeronave. O desafio final é fazê-la voar, com a força
gerada por um elástico na hélice e a ajuda do vento. "Nessa
fase, introduzimos os conceitos de equilíbrio, movimento e força,
que eles verão com mais profundidade na aulas de Física
no futuro", explica o professor Gerson Domingues, responsável
pelo laboratório. 2)
Ensinar as etapas do método científico Para
que o evento leve realmente à produção de Ciência,
a garotada precisa aprender a aplicar o método científico
- à medida que o projeto se desenvolve. "É da necessidade
de encontrar soluções para problemas da vida diária
que nascem o conhecimento e as atrações de uma feira",
explica Rosenilda Vilar, professora da EE Ministro Jarbas Passarinho
e do Colégio Anglo Líder, ambos em Camaragibe, região
metropolitana do Recife. No ano passado, os orientandos de Rosenilda,
da 7ª e 8ª séries, levantaram diversas questões
que, devidamente desenvolvidas, foram levadas às exposições
das escolas. Uma delas dizia respeito às plantas de uma várzea
próxima - terraplenada para a construção de um
parque -, que estavam definhando. A identificação de um
problema como esse é o primeiro passo do método científico.
Como não tinha conhecimento específico para explicar o
tema, a professora orientou os jovens a procurar a Universidade Federal
Rural de Pernambuco. Lá, eles foram auxiliados pela pesquisadora
Caroline Etiene, do Departamento de Microbiologia, que os conduziu pelo
segundo passo do método: a formulação de hipóteses. Depois de observar em campo o que estava acontecendo com as plantas e concluir que o vilão era o empobrecimento do solo, os grupos avançaram para a etapa seguinte: a definição de estratégias para tentar resolver o problema. A opção, discutida com a pesquisadora, foi usar fungos e bactérias para captar nitrogênio e redistribuir os nutrientes junto às raízes. Com a análise dos resultados (as espécies se regeneraram) e a conclusão do trabalho (posto em prática pela prefeitura e pela Defesa Civil), todas as etapas fundamentais do método científico foram exploradas. "Eles aprenderam os cinco passos de forma prática e agora sabem aplicá-los em qualquer outro projeto", conta Rosenilda. 3)
Apontar o valor de registrar as descobertas "Não existe Ciência sem registro", ressalta Roseli Lopes, da USP. Por isso, é preciso colocar no papel as etapas realizadas - com a ajuda do professor de Língua Portuguesa. O texto não precisa ser acadêmico, com notas de rodapé. Mas deve ser claro e detalhado. O hábito de anotar o passo-a-passo foi incorporado pelas classes de Rosenilda. Um grupo da escola Ministro Jarbas Passarinho estudou como a globalização alterou o artesanato de Caruaru, no agreste pernambucano. Na cidade de mestre Vitalino (1909-1963), famoso por seus bonecos de argila pintados a mão, a equipe entrevistou o filho do artista. Os dados passados por ele e os pesquisados foram usados para comparar a versão artesanal e a industrial dos bonecos, compondo o registro. 4)
Preparar a turma para a exposição do trabalho Nos dias da mostra, o conhecimento sistematizado durante a pesquisa deve ser apresentado aos visitantes por meio da fala e de cartazes, folhetos, maquetes e engenhocas. É importante não repetir oralmente informações escritas e procurar sempre interagir com as pessoas. "Principalmente os mais tímidos devem ser incentivados a falar em público", aconselha Elenice Lobo, coordenadora pedagógica do Santo Américo. Na feira do Anglo Líder, em Camaragibe, uma equipe montou sua invenção, uma versão barata de um ar-condicionado, sobre carteiras. De cara, os alunos não diziam do que se tratava. Ligavam a engenhoca e as pessoas sentiam um ventinho gelado. Depois, exibiam um banner e, com ele, explicavam para os visitantes as etapas da criação - que envolveu a montagem do motor e o desenvolvimento de um recipiente acoplado para a água. "Eles colocaram o objeto para funcionar e provaram como era eficiente para minimizar o calor da cidade, sempre em torno dos 30 graus", estusiasma-se Rosenilda. 5)
Organizar a infra-estrutura São necessários pelos menos quatro meses para organizar uma boa feira. "Esse período é suficiente para analisar as sugestões de temas apresentadas pela garotada, realizar pesquisas, visitar museus e universidades e montar o evento", afirma Maria Edite Costa Leite, coordenadora do Setor Educativo do Espaço Ciência, em Olinda. O sucesso não depende de estrutura luxuosa. "Se a escola não tem dinheiro para alugar estandes, expõe os trabalhos nas carteiras", sugere. Há várias formas de planejar o espaço, sempre de acordo com a arquitetura do local. Uma opção é exibir tudo no pátio ou dividir as experiências nas salas e nos laboratórios. O tempo ideal é de dois a três dias. No final, todos podem votar nos melhores projetos e inscrevê-los nas feiras regionais e nacionais espalhadas pelo Brasil. O sucesso das invenções verde-amarelas tem sido uma constante lá fora nos últimos anos.
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Decálogo A nossa escola é, por previsão constitucional, pública e gratuita. Portanto, ela tem de ser custeada pelos cofres públicos. Todas
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