Revista
do Projeto Pedagógico
II - Trabalhando
com Alunos: Subsídios e Sugestões
6.
A interdisciplinaridade
Em
grandes grupos, em dupla ou até mesmo sozinho é possível
integrar diferentes matérias e levar os alunos a compreender
plenamente os conteúdos curriculares.
Há
três anos, um apagão obrigou a população
a racionar energia e o Brasil a buscar alternativas. A crise, mostrada
à exaustão nos noticiários, passou a ser o centro
das discussões nas salas de aula. Seis professoras do Colégio
Santa Maria, de São Paulo foram além e se reuniram em
torno de um projeto interdisciplinar. Desde então, os alunos
estudam fontes alternativas de energia e produzem aquecedores solares
e ensinam a população a utilizá-los. O sucesso
do projeto se explica principalmente porque os conteúdos de Ciências,
Matemática, Geografia, Língua Portuguesa, História
e Ensino Religioso foram colocados a serviço da resolução
de um problema real, de forma integrada.
Um ambiente de aprendizagem como o que se formou no Santa Maria também
pode nascer em sua escola. Essa abordagem interdisciplinar só
acontece quando os conteúdos das disciplinas se relacionam para
a ampla compreensão de um tema estudado. "A relação
entre as matérias é a base de tudo" afirma Luis Carlos
de Menezes, professor da Universidade de São Paulo. Muita gente
acha, porém, que basta falar sobre o mesmo assunto para trabalhar
de forma interdisciplinar. "Isso é apenas multidisciplinaridade",
esclarece o consultor em educação Ruy Berger, de Brasília.
Ao utilizar os conhecimentos de outras áreas que não são
de seu domínio, você pode encontrar dificuldades. Mas aprender
com os colegas é uma das grandes vantagens dessa prática,
que estimula a pesquisa, a curiosidade e a vontade de ir aos detalhes
para entender que o mundo não é disciplinar.
A realidade é um banco de idéias
O
caminho mais seguro para fazer a relação entre as disciplinas
é se basear em uma situação real. Os transportes
ou as condições sanitárias do bairro, por exemplo,
são temas que rendem desdobramentos em várias áreas.
Isso não significa carga de trabalho além da prevista
no currículo. A abordagem interdisciplinar permite que conteúdos
que você daria de forma convencional, seguindo o livro didático,
sejam ensinados e aplicados na prática - o que dá sentido
ao estudo. Para que a dinâmica dê certo, planejamento e
sistematização são fundamentais. Ainda mais se
muitos professores vão participar. É preciso tempo para
reuniões, em que se decide quando os conteúdos previstos
serão dados para que uma disciplina auxilie a outra. Por exemplo:
você leciona Ciências e vai falar sobre o consumo de energia
para realizar algumas atividades, é imprescindível as
crianças conhecerem porcentagem, que será ensinada pelo
professor de Matemática. Quando as disciplinas são usadas
para a compreensão dos detalhes, os alunos percebem sua natureza
e utilidade.
Projetos interdisciplinares também pedem temas bem delimitados.
Em vez de estudar poluição, é preferível
enfocar o rio que corta o bairro e recebe esgoto. A questão possibilita
enfocar aspectos históricos, analisar a água e descobrir
a verba municipal destinada ao saneamento. Quantas disciplinas podem
ser exploradas? É possível que um caso assim seja trazido
pela garotada. Convém não desperdiçar a oportunidade
mesmo que você não se sinta à vontade para tratar
do assunto. Não precisa se envergonhar por não saber muito
sobre o tema. Mostre à classe como é interessante buscar
o conhecimento. "A formação continuada do professor
não se resume a realizar um curso atrás do outro, mas
também ler diariamente sobre assuntos gerais", complementa
Berger. Dessa maneira, ele aprende a aproveitar motes que surgem em
sala e que tendem a ser produtivos se abordados de forma ampla.
No livro Globalização e Interdisciplinaridade, o educador
espanhol Jurjo Torres Santomé, da Universidade de La Coruña,
afirma que a interdisciplinaridade dá significado ao conteúdo
escolar. Ela rompe a divisão hermética das disciplinas.
Se sua escola não trabalha dessa maneira, experimente lançar
a discussão em reuniões. Outra opção é
deixar seu planejamento à disposição para que os
colegas saibam que matéria você dará e em que momento.
Assim os interessados podem se organizar para agir em conjunto. A coordenação
tem um papel mediador, sugerindo parcerias e provocando o diálogo.
Esse tipo de trabalho pode até ser feito por apenas um professor.
Mas, nesse caso, a equipe estaria perdendo uma ótima oportunidade
de obter resultados mais significativos.
Um grupo de mãos dadas para ensinar
Quando
o apagão de 2001 forçou milhões de brasileiros
a reduzir o consumo de energia elétrica, a professora de Ciências
Maria Lúcia Sanches Callegari, do Colégio Santa Maria,
em São Paulo, fez uma proposta às quintas séries:
construir um aquecedor solar. Logo a idéia despertou o interesse
de outras cinco professoras. Todas se envolveram e, utilizando o horário
reservado para o trabalho coletivo, montaram um projeto conjunto, que
vem se repetindo anualmente. Para conciliar tantas disciplinas, o planejamento
é feito logo no início das aulas. Dessa forma, os professores
abordam conteúdos de seu currículo de acordo com as etapas
da construção e da instalação do aquecedor.
A professora de Geografia trabalhou o clima brasileiro e conceitos de
orientação utilizando a bússola para todos localizassem
o norte, direção para onde a placa do aquecedor deveria
estar voltada ao ser instalada sobre as casas. A de Matemática
pediu uma pesquisa sobre o consumo de energia de eletrodomésticos
e explorou conceitos de proporção ao calcular com a garotada
o tamanho das placas solares de acordo com o volume das caixas d água.
Em História, foram resgatados os motivos econômicos que
causaram a degradação do meio ambiente brasileiro. Nas
aulas de Ciências, os estudantes pesquisaram as fontes de energia
no país e quais alternativas apresentam menos impacto ambiental.
Com a professora de Língua Portuguesa, eles bolaram questionários
para entrevistar as famílias que receberiam o equipamento. O
objetivo das aulas de Ensino Religioso foi orientar os estudantes no
contato com a comunidade, para que eles compreendessem as razões
das diferenças entre a realidade deles e a dos moradores de bairros
carentes. "A idéia de doar os aparelhos para a população
foi das próprias crianças", lembra a orientadora
da 5ª série Ivani Anauate Ghattas.
As avaliações também são formuladas de maneira
interdisciplinar. Em História por, exemplo, os estudantes são
desafiados a discorrer sobre o extrativismo predatório ocorrido
no Brasil Colônia. Além disso, o objetivo é levá-los
a associar os prejuízos ao meio ambiente que hoje ameaçam
a qualidade de vida, conteúdos que, na teoria, fariam parte do
programa de Ciências. Além de confirmarem que a fórmula
tem sido vitoriosa no que se refere à aprendizagem da turma,
as seis professoras contabilizam ganhos pessoais. "Temos aprendido
sempre para colocar nosso conhecimento a serviço dos estudantes",
afirma Maria Lúcia.
Sem
tempo, dupla se reúne na hora do café
Um
dos conteúdos de Ciências é o sistema respiratório.
Nas sétimas séries do Colégio Juvenal José
Pedroso, em Goiânia, os esquemas mostrando o pulmão, a
faringe, e o nariz não estavam sendo suficientes para chamar
atenção dos alunos da professora Cleusa Silva Ribeiro.
Uma parceria sugerida pela professora de Língua Portuguesa, Paula
Rodrigues Garcia Ramos, deu um novo enfoque ao tema e às aulas.
Na escola onde as duas lecionam, a interdisciplinaridade não
é prática, até por falta de tempo. Cleusa e Paula
dão aulas em mais de um período. "O jeito foi nos
encontrarmos nos intervalos, nos corredores, na hora do café
ou dar uma fugidinha de vez em quando até a sala da outra",
conta Cleusa. A dupla sugeriu aos adolescentes que fizessem histórias
em quadrinhos sobre o que estavam estudando nas aulas de Ciências.
O pulmão e a laringe ganharam, pernas, olhos e bocas e tornaram-se
personagens. "Trabalhamos as figuras de linguagem e estudamos estruturas
de diálogos. Para elaborar o texto, eles tinham que dominar bem
o conteúdo de Ciências. Deu certo", avalia Paula.
O Projeto tomou mais consistência quando os estudantes sugeriram
abordar nos quadrinhos temas como os malefícios do cigarro ou
da poluição. Para dar conta do recado, as professoras
começaram a estudar com as turmas. Paula admite que pouco sabia
sobre o assunto e acabou adquirindo conhecimentos importantes para ajudar
nas tarefas. Para Cleusa, a experiência foi ainda mais positiva.
"Alertei meu aluno sobre um erro de ortografia. Ele argumentou
que a aula não era de Língua Portuguesa. Respondi que
para um bom trabalho, de qualquer área, é preciso escrever
corretamente". Com esse projeto a turma aprendeu como a língua
está relacionada a Ciências. "Trabalhar assim é
compreender um século de avanço na educação",
defende Menezes.
Como
ensinar relacionando disciplinas
-
Parta
de um problema de interesse geral e utilize as disciplinas como ferramentas
para compreender detalhes.
-
Como
um professor especialistas, você tem a função
de um consultor da turma, tirando dúvidas relativas à
sua disciplina.
-
Inclua
no planejamento idéias e sugestões dos alunos.
-
Se
você é especialista, não se intimide por entrar
em área alheia. Pesquise com os estudantes.
-
Faça
um planejamento que leve em consideração quais conceitos
podem ser explorados por outras disciplinas.
-
Levante
a discussão nas reuniões pedagógicas e apresente
seu planejamento anual para quem quiser fazer parcerias.
-
Recorra
ao coordenador. Ele é peça-chave e percebe possibilidades
de trabalho.
-
Lembre-se
de que a interdisciplinaridade não ocorre apenas em grande
projetos. É possível praticá-la entre dois professores
ou até mesmo sozinho.
__________
Colégio Santa Maria
Av. Sargento Geraldo Santana, 901, CEP 04674-225
São Paulo - SP - Tel (11) 5687-4122
Colégio
Estadual Juvenal José Pedroso
Rua 7 s/n, CEP 74770-190
Goiânia - GO - Tel (62) 208-2857
Meire
Cavalcanti
In Revista Nova Escola, Editora Abril, Agosto 2004,
|
Decálogo
a ser
seguido pelos gestores para a solução dos problemas de infra-estrutura
das Escolas Públicas Estaduais 1
Se não houver merendeira na escola, não
será fornecida a merenda;
2 Se não houver pessoa responsável pela Biblioteca,
ela permanecerá fechada; 3
Se não houver escriturários e secretário, de acordo
com o módulo, não haverá entrega de documentos na DE;
4 Se não houver verba
para compra de material e manutenção da sala de informática,
o local não será utilizado; 5
Se não houver recursos para reparos e vazamentos no prédio
escolar, não haverá consertos;
6 Se não houver recursos para pintura do prédio,
o prédio não será pintado;
7 Se não houver verba para a contratação
de contador para a escola, não haverá prestação de
contas à FDE; 8 Se
não houver verba suficiente para a contratação de funcionários
pela CLT, o dinheiro será devolvido;
9 Se a mão-de-obra provisória não
for qualificada, será recusada; 10
Se as festas não tiverem o objetivo de integrar a escola
à comunidade, não serão realizadas A
nossa escola é, por previsão constitucional, pública e gratuita.
Portanto, ela tem de ser custeada pelos cofres públicos. Todas
as omissões do Estado, com relação aos itens acima, deverão
ser objetos de ofícios da direção
às Diretorias Regionais de Ensino, a fim de isentarem o
diretor de eventuais responsabilidades administrativas. Toda e qualquer ameaça
de punição aos diretores associados da Udemo, por tomarem aquelas
atitudes, será objeto de defesa jurídica por parte do Sindicato,
seguida de denúncia ao Ministério Público e propositura de
Ações Civis Públicas contra o Estado, pelo não cumprimento
das suas obrigações para com as unidades escolares e pelos prejuízos
causados à comunidade escolar. |