Revista do Projeto Pedagógico

II - Trabalhando com Alunos: Subsídios e Sugestões

3. A Relevância da Avaliação Diagnóstica

As dificuldades para consecução de uma avaliação diagnóstica

O fato de haver sérios problemas de avaliação do alunado, mormente, nas escolas públicas, não é de surpreender. Trata-se de tema, relativamente, complexo e, por isso, merecedor de capacitação dos docentes para que se possa substituir, gradativamente, a avaliação classificatória, predominante entre grande parte dos professores, pela avaliação diagnóstica.

Há numerosa bibliografia sobre a matéria, algumas das quais relacionaremos ao final deste trabalho. Contudo, grande parte dos autores, que tratam de avaliação escolar, conquanto merecedores de atenta leitura, ignoram a inadequação da estrutura do sistema de ensino público, quanto às condições de trabalho e tempo disponível oferecidos aos docentes do Ciclo II e Ensino Médio (regendo algumas centenas de alunos) para realizar uma avaliação, que acompanhe, passo a passo, o crescimento do alunado a partir do diagnóstico da aprendizagem.

Por essa razão, o que vamos tratar neste artigo, não deve ser entendido como crítica aos professores, mas um convite ao estudo e à reflexão sobre a avaliação diagnóstica, levando em consideração a realidade que cerca os docentes desses segmentos, (o que torna difícil um acompanhamento individualizado), estimulando-os a alterar, no que for possível, sua maneira de avaliar os alunos.

É bom lembrar que aprová-los ou reprová-los, hoje, com a Progressão Continuada, deixou de ter importância, posto que, realizada ou não a avaliação classificatória, os alunos estarão promovidos ao final do ano. A eliminação das retenções deve ser um desafio ao professor para que busque novos caminhos em seu trabalho, em sala de aula, impedindo que se confunda Progressão Continuada com Promoção Automática. O fato de muitos alunos serem promovidos, aleatoriamente, deveria ser objeto de profunda reflexão para nós, educadores, interessados na aprendizagem de nossos alunos.


Avaliação diagnóstica X Avaliação classificatória

Afinal, ao avaliar alunos pretendemos detectar problemas em sua aprendizagem e solucioná-los ou, simplesmente, testá-los sobre o conhecimento, que procuramos transmitir em nossas aulas para classificá-los como alunos com bom ou mau aproveitamento.

Essas duas questões distinguem a avaliação diagnóstica da classificatória.

Para muitos professores, até por falta de informação, discussão e reflexão nas HTPCs, sobre o assunto, "avaliar" significa aplicar provas para as quais são estabelecidas um certo número de questões de um determinado conteúdo, que os alunos deveriam ter assimilado(?), a fim de obter um desempenho de acordo com parâmetros, consciente ou inconscientemente, rígidos, determinados pelos docentes. Ou, ainda, solicitar trabalhos e pesquisas, para melhorar a "nota", que, quase sempre, se resumem a cópias de livros ou enciclopédias a ser entregues em data fixada, sobre os quais, às vezes, sequer se tecem comentários pertinentes.
Generalizadamente, entre os docentes, pelas razões acima explicitadas, a prova constitui o alfa e o ômega das avaliações. As demais formas de avaliação constituiriam apenas algo ancilar e aleatório. Aplicam-na, alguns professores, com base em conteúdos trabalhados, ao longo de um espaço de tempo, no qual fica implícita a maneira pela qual os alunos deveriam responder às questões propostas, quase sempre dez, para facilitar a distribuição dos valores atribuídos a cada uma delas. Ao corrigi-las, é colocado um X nas respostas em desacordo com as concepções que o professor faz do conteúdo, um C nas que coincidem com seu ponto de vista e, se condescendente, um "C cortado" para as respostas (as "meio certas"), que contenham algo que se aproxime do questionamento efetuado.

Costumeiramente, as provas são devolvidas aos alunos nesse estado e não se fala mais nisso. Ou estarei enganado?

Evidentemente, não estamos desclassificando as "provas" como um dos instrumentos de avaliação, mas a maneira como são aplicadas.

Muitos professores não se dão conta de que essa forma de avaliação, quase sempre, caracteriza a simples devolução de conteúdos cuja assimilação, ainda que, conseguida por alguns privilegiados, não resulta, muitas vezes, em aprendizagem real para esses mesmos privilegiados e, muito menos, para a maioria dos avaliados. Pois, os conteúdos, objeto das avaliações, tornam-se, às vezes, irrelevantes, na medida em que as questões não foram preparadas, com base em objetivos bem definidos, ou formulados para a aplicação em situações novas, a partir de conhecimentos teoricamente assimilados(?) pelos discentes.

Justamente, por relacionar os alunos com base no bom ou mau aproveitamento, é que essas "provas" recebem o nome de classificatórias. Classificatórias porque avaliam os alunos de acordo com seu desempenho, num determinado momento, em comparação com os resultados do conjunto da classe, sem que o discente tenha a oportunidade de expor seus pontos de vista sobre suas respostas, as hipóteses que teriam levantado para a solução das questões propostas e a possibilidade de aprender a partir de erros, passíveis de serem revistos, se tais questões fossem discutidas com a classe.

Assim, no momento em que o professor elaborar provas cujas questões forem formuladas a partir de objetivos definidos, aplicando-as em situações novas e, após a correção, sejam elas discutidas com os alunos para solucionar seus problemas de aprendizagem, a prova classificatória, transforma-se numa avaliação diagnóstica.

Ora, quaisquer formas de avaliações, sejam provas, trabalhos em grupo, pesquisas, participação do aluno nas atividades rotineiras de sala de aula, ao serem avaliadas, deverão, sempre, constituir-se em novo momento de descoberta e possibilidade de novas aprendizagens, ou seja, algo dinâmico e não estático.

Algumas sugestões

Assim, poucos professores levam em consideração o fato de a avaliação ser um novo momento de aprendizagem ao não valorizar a produção e os conhecimentos dos alunos. Quantos conhecimentos poderiam ser avaliados além das provas? Abaixo relacionamos alguns:

aqueles observados em aulas dialogadas, nas quais o discente demonstra o conhecimento adquirido: por sua experiência de vida; nos meios de comunicação; em leituras formais e informais; quando são levados a acoplar seus saberes, às vezes, muito simples, ao novo, exposto pelo professor, no estudo de determinado conteúdo;

nas sínteses de uma unidade de estudo concluída em História, Geografia, Ciências etc. que se poderiam realizar com a classe. Ocasião em que os discentes seriam levados a participar, demonstrando tê-la aprendido, sendo capazes de informar, aos colegas e ao professor, os conceitos básicos desses conhecimentos, colaborando de forma solidária para a aprendizagem dos demais colegas, às vezes, desatentos;

na concretização desses conteúdos em histórias em quadrinho, dramatizações e outros, de fatos históricos, geográficos, científicos, matemáticos; de pequenos "esquetes", da utilização de canções da moda, preparadas por grupos de alunos em língua estrangeira moderna etc.;
em numerosas outras formas de avaliação, que o professor poderá criar, observando e registrando, sistemáticamente (até mesmo no diário de classe), a conduta e produção intelectual do aluno em suas aulas.

Muitos progressos poder-se-ão observar no processo. As redações e leituras em Língua Portuguesa, se elas forem trabalhadas ao longo de etapas bem definidas, nas quais o discente vai observando, com o professor, os vários aspectos da Língua, mormente quanto ao desenvolvimento de habilidades. As habilidades em discernir as idéias principais do texto; em montar um texto coerente com começo, meio e fim; em interioriozar a ortografia das palavras; a habilidade em perceber as regras gramaticais a partir do próprio texto do aluno; a habilidade em trabalhar com o dicionário, manejando corretamente palavras e sinônimos pertinentes a serem substituídos num determinado texto em estudo, entre dezenas de outras atividades passíveis de avaliação diagnóstica. Outro tanto, a partir de programas de leituras formais e informais.

É curioso observar que, muitas vezes, as redações são propostas aos alunos com temas sugeridos, exclusivamente, pelo professor (o que é extremamente desmotivador) para que sejam elaboradas em cinqüenta minutos. Corrigidas, são singelamente devolvidas com imensos vermelhões sobre os erros detectados. Raramente as "incorreções perpetradas" pelos discentes são objeto de análise com a classe. Se nós, diretores ou professores-coordenadores, durante o planejamento e nas HTPCs, agíssemos de forma semelhante com os docentes, solicitando-lhes uma redação para ser feita em cinqüenta minutos, temos quase absoluta certeza de que, mesmo os professores de Língua Portuguesa, realizariam um trabalho extremamente deficiente, posto que poucos conseguiriam redigir um texto razoavelmente coerente nesse espaço de tempo. Se o professor não consegue, imaginem o aluno?!

É importante observar que, na avaliação diagnóstica, os alunos seriam, sempre, estimulados a transferir o conhecimento adquirido em situações novas. Seria nessas situações novas que o professor poderia verificar se os conteúdos foram incorporados ao universo mental do discente, representado por novas atitudes (que os teóricos denominam de "tomada de decisão") perante esse conhecimento, na perspectiva do crescimento da aprendizagem, uma vez que as falhas apresentadas poderiam ser solucionadas pelo diálogo sobre o que ainda resta a aprender. São, justamente, esses procedimentos que caracterizam a Progressão Continuada.

Concluindo

Reconhecemos as dificuldades apresentadas por uma avaliação diagnóstica, que implica em acompanhamento individualizado, com preenchimento de algumas centenas de fichas por professores do Ciclo II e Ensino Médio, muitas vezes, responsáveis por 400 ou 500 alunos, conforme a disciplina, que ministram e jornada de trabalho, que exercem. Contudo, ela é perfeitamente factível para os professores do Ciclo I, que regem apenas uma classe.
Embora consideremos de muito boa qualidade o volume 8, "Avaliação e Aprendizagem", do "Raizes e Asas" - existente em todas as escolas -, grande parte dos exemplos apresentados de avaliação diagnóstica bem sucedida, nesse manual, referem-se às escolas de Ciclo I, o que é sintomático dos problemas, que eventualmente surgem nas de Ciclo II e Ensino Médio.
Mas as dificuldades não devem desestimular professores de Ciclo II e Ensino Médio em realizarem pequenos avanços, criando mecanismos que possam:

adequar o número de alunos, que regem com avaliações diagnósticas, ou seja, aquelas em que o professor observa e registra, em muitas ocasiões, os progressos dos alunos no cotidiano de sala de aula;

levá-los a discutir com os discentes problemas de aprendizagem detectados na avaliação de provas elaboradas a partir de objetivos bem definidos e aplicadas em situações novas, ainda que, de forma simples;

valorizar as realizações dos alunos, das mais simples às mais complexas (elevando a auto-estima, mormente, daqueles que apresentam maiores dificuldades), que constituam um novo momento de aprendizagem.

Assim agindo, estarão os professores dando um passo gigantesco na eliminação da avaliação classificatória e elevando, sobremaneira, a qualidade de ensino em suas aulas.
Mas, atenção! Avaliação diagnóstica jamais poderá ser confundida com libertinismos avaliatórios no qual o "professor bonzinho" distribui valores positivos em grande quantidade para, muitas vezes, livrar-se de aborrecidas correções de provas e trabalhos. Mais danosa que uma avaliação classificatória é a avaliação aleatória, ou seja, nenhuma avaliação.

Comentário Bibliográfico

Gostaríamos, ao finalizar este trabalho, de tecer algumas considerações sobre o livro, "Avaliação Educacional em Três Atos" de Léa Depresbiteris, lançado em 1999, pela Editora Senac, cuja leitura é, a nosso ver, extremamente prazerosa, pelas idéias expostas sobre avaliação, pela brevidade e estilo adotados pela autora.

No primeiro ato: "A avaliação em julgamento- culpada ou inocente?" a autora simula o julgamento da avaliação. Nele surgem depoimentos da ré, de testemunhas, do juiz, do promotor, do advogado de defesa, todos argumentando pró e contra a avaliação, num diálogo interessantíssimo através do qual a autora vai expondo, sinteticamente, as mais variadas teorias de avaliação de forma simples e funcional.

No segundo ato: "O mínimo que um avaliador precisa saber sobre a avaliação", a autora cria uma personagem interessada em participar de um concurso para técnico em avaliação, mas extremamente insegura em seus saberes. Ao entrar em contato com um especialista, que vai auxiliá-la em suas dúvidas, trava-se uma interessante troca de informações, na qual se vão desvelando as questões relevantes da avaliação educacional. É o gancho para que a autora demonstre o que um educador necessita saber sobre avaliação.

No terceiro ato: "Avaliação numa perspectiva construtivista - teoria e prática", a autora expõe o dilema da professora-coordenadora Anita, às voltas com arrogante docente "sabe-tudo" sobre avaliação e construtivismo, vivendo a atazanar colegas com sua pseudo-sabedoria sobre a matéria. A partir desse dilema, ou seja, como resolver o problema sem ferir suscetibilidades, discutem-se, com propriedade, questões importantes da avaliação e do construtivismo.
"Avaliação Educacional em três atos" é leitura importante para dirigentes, coordenadores e professores.

BIBLIOGRAFIA

LIVROS

DEPRESBITERIS, Léa.Avaliação Educacional em três atos. Editora Senac. Rua Teixeira da Silva, 531, CEP 04002- 032- São Paulo - SP. 1999.
Tels: (11) 884-8122 - (11) 884-6575 - (11) 889-9294.
Fax (11) 887-2136.
DALMAS, A. Planejamento participativo na escola: elaboração, acompanhamento e avaliação. Vozes. Petrópolis. 1994.
HOPFMANN, Jussara. Avaliação Mediadora: uma prática em construção da pré-escola à Universidade. P. Alegre. Educação e Realidade. 1993.
LUCHESI, C. Verificação ou Avaliação: o que pratica a escola? A construção do projeto de ensino e avaliação, nº 8, São Paulo FDE. 1990
SAUL, Ana Maria. Para mudar a pratica de avaliação do processo de ensino-aprendizagem- in Formação do Educador e avaliação Educacional. org. Bicudo e Celestino. UNESP - 99. Vol IV.
WERNECK, H. Se você finge que ensina, eu finjo que aprendo. Vozes.Petrópolis. 1994.

JORNAIS

O Diretor. UDEMO: nº 6 - ago/99.
O Diretor. UDEMO: nº 8 - dez/98.
O Diretor. UDEMO: nº 6 - set/98.
O Diretor. UDEMO: nº 3 - mai/98.
O Diretor. UDEMO: nº 2 - fev/97.
O Diretor. UDEMO: nº 1 - jan/00
O Diretor. UDEMO: nº 1 - jan/01

LEGISLAÇÃO

Lei 9394
Del. CEE 10/96
Parecer CEE 526/97
Ind. CEE 9/97, 22/97 e 5/98
Resol. SE 134/96, 27/96 e 21/98
Resol. SE 131/98 e 7/99

Decálogo
a ser seguido pelos gestores para a solução dos problemas de infra-estrutura das Escolas Públicas Estaduais


1
Se não houver merendeira na escola,
não será fornecida a merenda;

2
Se não houver pessoa responsável pela Biblioteca, ela permanecerá fechada;

3
Se não houver escriturários e secretário,
de acordo com o módulo, não haverá entrega de documentos na DE;

4
Se não houver verba para compra
de material e manutenção da sala de informática, o local não será utilizado;

5
Se não houver recursos para reparos e vazamentos no prédio escolar,
não haverá consertos;

6

Se não houver recursos para pintura do prédio, o prédio não será pintado;

7

Se não houver verba para a contratação de contador para a escola, não haverá prestação de contas à FDE;

8
Se não houver verba suficiente para a contratação de funcionários pela CLT,
o dinheiro será devolvido;

9
Se a mão-de-obra provisória
não for qualificada, será recusada;

10
Se as festas não tiverem o objetivo de integrar a escola à comunidade, não serão realizadas

A nossa escola é, por previsão constitucional, pública e gratuita. Portanto, ela tem de ser custeada pelos cofres públicos.

Todas as omissões do Estado, com relação aos itens acima, deverão ser objetos de ofícios da direção às Diretorias Regionais de Ensino, a fim de isentarem o diretor de eventuais responsabilidades administrativas.
Toda e qualquer ameaça de punição aos diretores associados da Udemo, por tomarem aquelas atitudes, será objeto de defesa jurídica por parte do Sindicato, seguida de denúncia ao Ministério Público e propositura de Ações Civis Públicas contra o Estado, pelo não cumprimento das suas obrigações para com as unidades escolares e pelos prejuízos causados à comunidade escolar.