|
||
Matéria publicada no Jornal Folha de São Paulo, de 04/03/10 A hora da educação Relatório do governo revela avanços lentos no ensino na última década; faltam objetivos claros para políticas públicas É PREOCUPANTE , embora não surpreenda, o
balanço apresentado em relatório do governo federal sobre
o desempenho da educação brasileira na última década.
Encomendado pelo ministro Fernando Haddad, o documento revela que apenas
33% das 294 metas estabelecidas no Plano Nacional de Educação,
de 2001, haviam sido cumpridas em 2008, último ano com dados consolidados
no estudo. É um resultado desalentador para uma sociedade que
só agora vai alcançando o consenso necessário acerca
da importância da educação para enfrentar seus desafios,
do potencial de crescimento econômico à violência urbana
-ao mesmo tempo em que se dá conta de oportunidades desperdiçadas. Fica claro que o país não foi capaz, nesse
período, de diminuir a evasão no ensino médio, conter
de maneira satisfatória as taxas de repetência e ampliar
tanto quanto seria recomendável o acesso à universidade.
Cada uma dessas falhas cobrará o seu preço nos próximos
anos, e será mais lento o ritmo em que o país caminhará
na direção de melhores condições sociais,
com a necessária redução das desigualdades. Ao mesmo tempo foram tantos os objetivos definidos em 2001,
que a taxa de cumprimento das metas precisa ser analisada com cautela.
Faltou ao plano identificar prioridades, estabelecer metas passíveis
de serem acompanhadas por indicadores confiáveis e, em alguns casos,
uma perspectiva mais realista. Chama a atenção, por exemplo, o projeto de
matricular, em uma década, metade das crianças de zero a
três anos em creches. Em relatório de 2005, a Organização
para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE),
que congrega países industrializados, listava apenas Dinamarca
e Islândia, em uma lista de 28 nações, como cumpridoras
desse louvável objetivo. Esse tipo de irrealismo acaba por obscurecer conquistas
do período, quando o país dobrou a parcela de crianças
de zero a três anos na escola -de 9% para 18%. Os resultados positivos, no entanto, não são
capazes de dissipar a impressão geral negativa propiciada pelo
estudo. O Brasil avançou pouco, e por vezes retrocedeu, em índices
educacionais importantes. O gasto total com educação ficou
estagnado em cerca de 5% do PIB até 2007. A parcela de jovens entre
15 e 17 anos no ensino médio passou de pífios 45,4%, em
2001, para 50,4%, em 2008. É preciso não só melhorar os indicadores, mas fazê-lo em ritmo muito mais intenso. O país discutirá em 2010 seu novo Plano Nacional de Educação, que fixará objetivos para os próximos dez anos. É uma oportunidade para elaborar diretrizes mais precisas, estabelecer prioridades claras e criar incentivos ao cumprimento de metas que possam ser acompanhadas com mais precisão e regularidade
|
|
|
|