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Matéria publicada no jornal Folha de São Paulo, de 13 de agosto de 2009. Adolescência e identidade ROSELY SAYÃO "Ser adolescente não é fácil
e meus pais não percebem isso", disse-me uma garota de 15
anos, chorando. Concordo com ela, por vários motivos. De largada,
eles foram considerados "aborrecentes", uma expressão
que deve ser riscada do vocabulário, já que sugere que os
jovens aborrecem os adultos com suas crises, mudanças de humor,
rebeldias etc. Com sua presença, enfim. A quem considera os adolescentes desagradáveis,
lembro que todo adulto já encarnou um, fato que costuma ser convenientemente
esquecido. E lembro, também, que é preciso entender que
deixar de ser criança significa, primeiramente, perder muita coisa. A ansiedade que os jovens sentem com as mudanças
que ocorrem no corpo deles não é coisa pequena nesse mundo
em que a aparência é tão valorizada, por exemplo.
Mas hoje vou conversar sobre o processo de crise de identidade nessa fase. Os pais são o prolongamento da criança, já
que tudo o que ela faz passa por eles. Perder esse apoio e referência
tão fortes provoca vulnerabilidade e é trabalhoso porque
significa construir e procurar sua própria identidade. Isso supõe
testar capacidades, aprender a reconhecer limites e riscos, organizar
sua relação com o grupo e reconhecer o que quer e o que
pensa, entre outros processos. Passar por isso com a fragilidade que os adultos vivem
nesse tempo só torna as coisas ainda mais difíceis. Essa
é a crise de identidade, uma das passagens inevitáveis desse
período. Para saber quem quer ser, o adolescente precisa saber quem
são seus pais. Para chegar a um local desconhecido é preciso
estar bem localizado, saber onde está e de onde veio, não
é? O espírito da lei recentemente aprovada no Senado,
que permite aos filhos adotados conhecer dados de seus pais biológicos,
é esse. O problema é que esse conhecimento tem sido complicado
porque muitos pais não dão rumo aos filhos. "Você escolhe, você é quem sabe,
você decide" são expressões que os pais dizem
com frequência a filhos pequenos acreditando que, com isso, lhes
dão autonomia. Não. Desse modo, negam aos filhos o conhecimento
de quem são e de onde estão e a própria condição
de criança. "Sou praticamente um adulto", ouvi um garoto
de nove anos dizer. Para tornar-se adulto, o adolescente precisa passar por
sua crise dentro da família para conseguir se organizar fora dela.
Por isso, os pais precisam "segurar a onda", apoiá-lo
e se fazer presentes não fisicamente sempre que o filho precisar. A família precisa ser continente para o filho em
crise, mas muitos pais estão "caindo fora", como dizem
os jovens. Ser impotente para se relacionar com o filho adolescente
parece uma epidemia e isso só agrega dificuldade à já
difícil tarefa deles -como reclamou a garota citada-, que só
colabora para o adiamento da aquisição de uma identidade. Um adolescente não pode ser como uma criança,
assim como um adulto não pode ser como um adolescente. Precisamos
encontrar soluções para esse duplo problema.
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