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Matéria publicada no Jornal Folha de São Paulo, de 25/09/08 Elogios em excesso ROSELY SAYÃO Muitas famílias têm transformado
a educação dos filhos em um grande processo de barganha.
Vale quase tudo para conseguir que as crianças e os adolescentes
obedeçam, esforcem-se, dediquem-se, cumpram com suas obrigações
e não façam o que não deve ser feito: oferecer presentes
-que, conforme a idade do filho, chegam a ser bem custosos-, dar dinheiro,
prometer passeios, elaborar quadros de incentivos inspirados no programa
de TV "Supernanny" e, principalmente, elogiar. Fez a lição, arrumou
a cama, estudou, tirou nota boa, tomou banho no horário determinado
ou dormiu em sua própria cama? Dá-lhe elogio. Agora, quase
tudo o que as crianças fazem virou motivo para elogio. Os pais acreditam que elogiar o filho
ajuda a criança a se ter em boa conta e a enfrentar as novas aprendizagens
que surgem a cada dia e, portanto, que se trata de um agente do bom desenvolvimento
e crescimento. Na verdade, elogiar em demasia -e é isso o que tem
acontecido- atrapalha tal movimento. Por quê? Em primeiro lugar, porque o elogio
está sempre ligado a algum resultado: um comportamento, uma aprendizagem
ou a finalização de alguma atividade. O elogio é
a apreciação favorável de um produto considerado
bom. Só que, para alcançar tal resultado, a criança
precisou realizar um processo que exigiu mais ou menos esforço
ou persistência, e, para o crescimento, isso é o que importa. Do jeito que as coisas andam, crianças
têm recebido elogios por coisas que não exigiram esforço
nenhum. Além disso, é preciso lembrar que nem todo bom processo
se converte em bons resultados, não é? Do modo como o elogio tem sido usado,
todo o procedimento é ignorado em nome do resultado. A criança
aprende que o importante é acertar, e não aprender, e isso
não pode ser uma boa coisa. Afinal, para aprender, é preciso
reconhecer a ignorância e correr o risco de errar, e quem visa ao
elogio não quer correr tal risco. Em segundo lugar, o elogio freqüente
torna a criança quase dependente da aprovação dos
pais -do outro, portanto-, e isso impede que se veja, que se auto-avalie
e que reconheça o valor do que faz. O elogio em excesso infantiliza. Por sinal, podemos constatar o quão
infantilizado está o mundo adulto justamente pela busca do elogio.
Muitos adultos, mesmo na vida profissional, têm feito de tudo para
ganhar elogios e reclamam quando não os obtêm. Há
algo mais infantil? Afinal, do outro precisamos buscar reconhecimento
da nossa existência, e não aprovação, e essas
duas coisas são bem diferentes entre si. Finalmente, o elogio não é
da ordem do afeto, o eixo fundamental da educação familiar.
É para garantir o amor dos pais que a criança se deixa educar.
Por isso, muito mais efetivo para a criança é receber um
beijo. Ganhar um afago e perceber com clareza
o quanto os pais estão orgulhosos -ou não- são manifestações
de afeto que, além de solidificarem as relações amorosas,
também funcionam como excelentes recursos educativos. Deixar os
elogios para situações especiais só valoriza o seu
uso. ROSELY SAYÃO é psicóloga e autora de "Como Educar Meu Filho?" (ed. Publifolha) |
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