DIREITO
DE RESPOSTA
Ao tentar defender a política meritocrática
repaginada pela Secretaria de Estado de Educação de São
Paulo, o Sr. Secretário da Educação Paulo Renato
Souza atribui grande responsabilidade pelos problemas da escola aos professores
e à sua formação, apontando as Faculdades de Educação,
e nominalmente a Unicamp e Usp, pelos males da Educação
do Estado de São Paulo.
Afirma o Sr. Secretário que a formação
nesses cursos é muito teórica e ideológica, em que
se defende a ausência de método e não se provê
o professor de técnicas adequadas de ensino.
Não ingenuamente, o Sr. Secretário
de Educação faz parecer que universidades públicas
e privadas funcionam a partir dos mesmos princípios e condições,
com os mesmos propósitos e a mesma qualidade, o que nem de longe
corresponde à realidade.
Induz também a pensarmos que são as
instituições públicas que formam a maioria dos professores
do Estado, o que também não corresponde à realidade.
No Estado de São Paulo, infelizmente, as universidades públicas
paulistas são responsáveis por apenas 25% das vagas universitárias,
contra 75% das privadas.
Vale dizer que essa discrepância não
parte de uma opção das universidades públicas, mas
foi produzida, nos últimos 15 anos, pela própria política
de encolhimento do setor público e ampliação do setor
privado que ele, então Ministro da Educação, ajudou
a implementar.
Soa estranho, então, que a responsabilização
pela suposta má formação dos professores recaia exatamente
no setor minoritário, em termos numéricos, quanto à
formação de professores.
Pior fica perceber que o ex-Ministro e atual Secretário
de Educação do Estado desconhece os projetos e currículos
dos cursos de pedagogia da Unicamp e Usp, pelos quais o Estado é
responsável.
No caso do curso de Pedagogia da Unicamp, há
mais de uma década temos defendido e trabalhado, como princípios
norteadores de nosso currículo, a formação teórica
sólida (da qual certamente não abrimos mão, já
que formamos educadores e não técnicos), a pesquisa como
eixo de formação, a unidade teoria-prática, sendo
o nosso compromisso, como universidade pública, com a educação
pública de qualidade para todos. Em nossa última reforma
curricular, foi exatamente nas atividades de pesquisa e prática,
e no estágio supervisionado, que logramos ampliar nossa carga horária
e nossas experiências de formação.
Nada na nossa organização curricular
e nos nossos planos de ensino aponta para a defesa do espontaneísmo
e ausência de pesquisa sobre a prática, como afirma nosso
secretário. Equivoca-se o Sr. Secretário ao confundir autonomia
do professor, como intelectual que reflete sobre a própria prática
e toma decisões, com ausência de método. Nossa ênfase
na formação continuada a partir dos projetos pedagógicos
das escolas, como trabalho coletivo, reforçam essa diferença.
Se pensar criticamente a realidade, conhecer os problemas
do nosso país, dos nossos alunos concretos, dos nossos professores
concretos, é visto pelo Sr. Secretário como "viés
ideológico", o que dizer da assunção de uma
meritocracia cruel e desumana, que se assenta de forma alienada sobre
as profundas desigualdades que marcam o nosso Estado e o nosso país,
escamoteando e ocultando suas verdadeiras causas por meio do discurso
falacioso da meritocracia? Não haverá também aí
viés ideológico, e a questão não estaria na
opção que fazermos, de nossa parte, por defender uma educação
de qualidade para todos, e da parte do Governo do Estado, em manter a
desigualdade entre a educação para o povo e a educação
para as elites? Ou pretende o Sr. Secretário zombar da inteligência
do leitor, querendo fazer crer que a política por ele desenvolvida
é neutra, imparcial, desprovida de ideologia?
Apenas para ilustrar nosso compromisso e vínculo
com a realidade e o cotidiano escolar, e a relevância do trabalho
que realizamos, segundo dados fornecidos pela Assessoria de Imprensa da
Unicamp, a pesquisa realizada nesta Universidade mais consultada neste
ano de 2009 é da Faculdade de Educação e, talvez
para surpresa do Sr. Secretário, trata de uma questão pungente
da sala de aula: o ensino de matemática. Esse é apenas um
exemplo dos estudos que realizamos e nossa produção aponta
a intensidade do vínculo que estabelecemos com a escola pública,
nas nossas atividades de ensino, pesquisa e extensão. Além
disso, o Sr. Secretário desconhece que o curso de Pedagogia da
Unicamp foi reconhecido, durante os últimos anos, como um dos melhores
do país.
Quanto à forma como encaramos a relação
público-privado, vale salientar que, em muitos países em
que dizemos nos espelhar, a educação pública de qualidade
é um direito da população, as condições
de trabalho e salário docente são garantidas sem a necessidade
do apelo à alegoria do discurso meritocrático, e a maioria
das vagas universitárias são públicas (como nos Estados
Unidos e na nossa vizinha Argentina). E, para informação
do Sr. Secretário, a verba pública não é do
governo nem do setor econômico; provém dos muitos impostos
que nós, trabalhadores paulistas, brasileiros, pagamos, com o suor
de nosso trabalho. A educação de qualidade, portanto, é
nosso direito e obrigação do Estado.
Congregação dos professores da Faculdade
de Educação da UNICAMP
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