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UDEMO |13/12/16 12:38 | Atualizado em 15/12/16 17:19


Matéria publicada na Folha de São Paulo, 13 de dezembro de 2016.

Férias são férias

Rosely Sayão

Muitas crianças já estão desfrutando das férias: terminaram o ano letivo bem e sabem que seguirão em frente no próximo ano. Alguns desses, entretanto, têm pais que acham que elas precisam continuar com um mínimo de estudos por dia, para não perder o hábito (!).

Se você é um desses pais, vou pedir que pense melhor nessa história, caro leitor. Criança precisa de espaço e de tempo para desfrutar a infância e, durante o período de aulas, quase não conseguem isso. Vamos deixar que suas férias sejam realmente férias!

Mas, para outras crianças, a situação é diferente: ainda têm de frequentar aulas para "recuperar" conteúdos de uma ou mais disciplinas que não aprenderam durante o ano. E, como se não bastasse o fato de perderem um tempo precioso de férias, ainda têm de suportar a pressão dos pais.
Alguns dão longas broncas quase todos os dias, outros tiram a maioria dos entretenimentos da criança e não permitem que façam coisas de que gostam, outros fazem ameaças em relação a viagens de férias, presentes de Natal, essas coisas.

Esses pais acham que essas estratégias funcionam. Não! Em geral, produzem o efeito contrário, porque levam a criança a ter uma atitude negativa em relação aos estudos.

Claro que, entre essas crianças e adolescentes, há alguns que não investiram o menor esforço nas aulas para passar de ano. Talvez, a esses, tenha faltado tutela adulta na escola e em casa para que cumprissem com seu potencial.

Mas muitos deles não conseguiram, de fato, aprender por um motivo que não é deles, e sim do funcionamento e organização escolares. Como já sabemos, os alunos têm ritmos de aprendizagem diferentes e também aprendem de formas diversas. Mas, enquanto a escola continuar a tratar todos no coletivo, produziremos esse fenômeno: o de alunos que têm potencial, mas que não conseguem aprender.

Aos pais dessas crianças, faço um pedido: não tratem essa situação de seu filho como um desastre, um fracasso. Incentivem, encorajem, desafiem os filhos a aprender, apoiem e, principalmente, passem a eles a ideia de que eles têm capacidade e que vocês sabem disso. Essa pode ser a melhor ajuda dos pais a essas crianças nesse momento.

Finalmente, há alunos que ficaram "retidos", ou seja, irão, no próximo ano, repetir a mesma série que já cursaram. E, o que é pior: da mesma maneira que foi este ano.

Os que não conseguiram avançar por falta de um mínimo esforço, só irão conseguir melhorar se tiverem apoio escolar e familiar, no sentido de procurar saber os motivos de a criança não ter aprendido.

Será o método escolar, a maneira de ele encarar os estudos, problemas de convivência na escola ou em casa que atrapalharam seu potencial de aprendizagem, por exemplo?

Mas, uma coisa é certa: castigos que fazem sofrer também não funcionam nesses casos, tampouco a decepção e tristeza dos pais em relação ao filho por ele não ter conseguido passar de ano.

Qualquer que tenha sido o resultado escolar de seu filho, caro leitor, lembre-se: a vida escolar deles não é o fato mais importante da vida deles, tampouco na da família.

Vamos aliviar um pouco a carga que aprendemos a colocar sobre eles, vamos? E vamos, também, deixar claro que a escola é um problema deles, e não dos seus pais? 

 


ROSELY SAYÃO é psicóloga e autora de "Como Educar Meu Filho?" (Publifolha)

 

 
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