Leituras

 

 

UDEMO |29/11/2016 12:38 | Atualizado em 29/11/16 12:46


Matéria publicada na Folha de São Paulo, 29 de novembro de 2016.

Lidando com o 'mimimi', enfrentar as adversidades da vida fortalece

Rosely Sayão

Quase todo mundo conhece a expressão "mimimi" da linguagem informal. Levei um tempo sem me interessar por seu uso, mas ela passou a ser tão presente em nosso cotidiano que decidi investigar.

Minha curiosidade: de onde ela surgiu. Eu me espantei ao saber que ela surgiu do personagem Chaves, de um seriado antigo que terminou em 1980 e exaustivamente reprisado, cultuado até hoje. Chaves, um moleque órfão, sempre que contrariado, emitia esse som "mimimi" para indicar seu choro.

Essa expressão passou a ser usada, sempre de modo pejorativo, para indicar reclamações sem justa causa, frescura, manha etc. Até em uma peça publicitária ela já apareceu e provocou muitas reclamações das mulheres porque chamou de "mimimi" as reclamações das dores e do mal-estar provocados pelo período menstrual.

Agora, professores e pais têm usado a expressão com bastante frequência para nomear diversos comportamentos dos mais novos. Tudo agora virou mimimi. Então, vamos conversar a respeito dessa questão.

Sim: nós, educadores formais e informais, temos dado atenção a muitas reclamações de filhos e alunos, o que emperra e/ou paralisa o processo de crescimento e de aprendizagem deles, e não apenas no aspecto cognitivo.

Filhos reclamam das tarefas domésticas que devem realizar, do tamanho ou da dificuldade das lições que precisam fazer ou estudar, dos colegas que se comportam desta ou daquela maneira, das festas para as quais não foram convidados etc. E, quase sempre, os pais atendem, ou seja, dão importância a tais reclamações, e interferem.

O problema é que dar conta sozinhas de suas obrigações –todas possíveis– e enfrentar as adversidades da vida fortalece as crianças porque permite que elas criem mecanismos pessoais de defesa e, principalmente, de resiliência.

Em todas essas situações a interferência dos pais prejudica o desenvolvimento dos filhos em vez de ajudar! O que eles podem fazer de melhor nesses momentos é acolher as reclamações como legítimas, mas incentivar e encorajar o filho a realizar o que precisa, mesmo que isso exija muito esforço e dedicação.

Essa é uma grande lição que os pais podem dar, que colabora para a criança melhorar sua autoimagem. Ela percebe, ao realizar sozinha suas responsabilidades, seu potencial sendo colocado em ação, o que lhe dá mais confiança em si mesma. E tudo isso cabe também aos filhos adolescentes.

Dos jovens, falarei das reclamações que fazem aos professores, inclusive nas faculdades. É a data da prova, da entrega do trabalho, a quantidade de conteúdo a ser estudada etc., que eles querem adiamento e/ou redução ora porque é véspera de feriado ou de um jogo importante (!), ora porque o prazo é curto, ora pela quantidade do conteúdo indicado etc.

Quando os professores cedem, perdem sua autoridade e, principalmente, passam a ideia de falta de seriedade e de compromisso com a formação de seus alunos.

Pressionar e exigir são conceitos diferentes do conceito de cobrar. Os mais novos precisam ser cobrados a crescer porque esse é o destino deles. Muito melhor colaborar para que cresçam aprendendo, amadurecendo e se aprimorando pessoalmente do que permitir que cresçam apenas em idade e tamanho, não é?


ROSELY SAYÃO é psicóloga e autora de "Como Educar Meu Filho?" (Publifolha)

 

 
Filie-se à Udemo