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UDEMO |19/09/2016 | Atualizado em 19/09/16 12:08


Matéria publicada na Folha de São Paulo, 18 de setembro de 2016.

Cartas e artes viram tática contra evasão escolar

DHIEGO MAIA

O cenário do Colégio Estadual Dona Genoveva Rezende de Carneiro, o único de ensino médio em Itaguari (GO), era o de uma terra arrasada até um ano e meio atrás, diz a diretora Ireni Mota, 55.

Havia banheiros pichados, torneiras e vidraças quebradas. Lixo por todo lado, as salas mais pareciam "um cemitério de carteiras". A evasão chegou a 40% no período noturno. O índice geral de faltas beirava os 30%.

Na cidade que é um dos polos da confecção de lingerie do país, os jovens trocavam as aulas pelas oficinas de costura. "Ou por drogas", afirma a diretora.

Para reverter esse quadro, Mota criou uma estratégia de guerra. Mapeou a cidade e catalogou o endereço de cada aluno que havia abandonado a escola. O passo seguinte foi mobilizar os alunos mais frequentes para que eles chamassem de volta os colegas faltosos por meio de cartas enviadas pelos Correios.

Em uma das correspondências às quais a Folha teve acesso, uma aluna do 3º B escreveu para o colega. "É complicado conseguir um emprego decente sem o ensino médio completo. A sua falta me incomoda, pois quero ver todos os amigos se formarem."

O projeto deu bons resultados: atraiu 10% dos que estavam fora de sala. "Eles tomaram consciência de que, se a evasão crescesse muito, a escola poderia até fechar."

Segundo especialistas, a nova arquitetura escolar exige um diretor mais próximo de sua comunidade. "Aquele que estabelece vínculos, divide responsabilidade, mobiliza, lida com crises, mapeia e traça metas, atinge resultados mais duradouros", afirma Tatiana Belo, especialista em gestão escolar da Fundação Itaú Social.

E leva tempo. No caso da escola Didacio Silva, em Teresina (PI), exatos dez anos.

Em 2005, a unidade viu um ex-aluno ser morto a tiros em uma briga de gangues durante uma feira de ciências. Em 2015, obteve o título de escola com a melhor gestão do Piauí, concedido pelo Ministério da Educação. Como chegou lá? "Dançando", afirma Alberto Vieira, 47, diretor do colégio há 11 anos.

Vieira ouviu os alunos e encontrou nas artes o caminho da mudança. "Por meio do teatro, da dança e da música, ensinamos matemática, física e química", diz. O índice de evasão da Didacio caiu de 30% para zero. Em 2015, 80% dos alunos que prestaram o Enem conseguiram uma vaga na universidade.

Mota e Vieira também buscaram capacitação. São crias do Jovem de Futuro, programa do Instituto Unibanco que ensina práticas de gestão a diretores. A ação funciona nas redes estaduais do Piauí, Ceará, Pará, Espírito Santo e Goiás –atingiu 2.500 escolas nos últimos oito anos.

"O programa preenche a lacuna deixada pela universidade que ainda não ensina o professor a administrar uma escola na prática", diz o pedagogo Alexsandro Santos, gerente do instituto.

Diretora da Escola Rio Tocantins, em Marabá (PA), Hellen Nyde, 39, expõe o maior desafio da função: "É lidar com problemas que não dependem da minha gestão. Minha escola ficou um ano sem professor de português em quatro turmas do ensino médio e não pude fazer nada." 


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