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UDEMO | 17/05/2016 09:51| Atualizado em 20/05/16 16:51


Matéria publicada na Folha de São Paulo, 17 de Maio de 2016.

Há mais contradição do que consenso sobre necessidade da lição de casa

Vamos conversar sobre a lição de casa, em especial a das crianças que frequentam a escola até a metade da segunda parte do ensino fundamental.

Esse assunto sempre retorna, porque é grande o número de pais, mães principalmente, que atinge os seus limites de tolerância e de desespero para tentar fazer com que os filhos deem conta da tarefa escolar a ser feita em casa.

Vamos entender uma característica central nessa história, mas de que poucas pessoas se dão conta: a lição de casa é importante porque concretiza a relação família-escola. E qual o papel de cada uma das instituições nessa tarefa da criança?

Cabe à escola ensinar e passar a lição que o aluno deve fazer fora do espaço escolar e, à família, oferecer ao filho todo o apoio necessário para que ele seja capaz de cumprir sua responsabilidade.

Os pais precisam, para realizar a sua parte, ter condições materiais, tempo, conhecimento, paciência e gosto em ensinar as disciplinas do conhecimento. E tudo isso não é fácil, já que a maioria dos pais trabalha muito além do turno de oito horas. Sobra pouco tempo para a convivência com os filhos, e nesse tempo ainda precisa caber a tutela da lição de casa.

A parte que cabe aos pais é um tanto quanto maior que a parte que cabe à escola, não é? Além disso, não são todos que têm condições de realizar a sua parte, seja por falta de conhecimento específico, seja por falta de tempo ou de paciência com o filho. Não é qualquer mãe ou pai que consegue exercer, simultaneamente, dois papéis: o de pai e o de professor particular do filho.

As crianças, em geral, acham o dever de casa entediante, e por isso resistem em usar o seu precioso tempo de brincar para se dedicar a essa tarefa. Para elas, há outras coisas bem mais interessantes a fazer! A lição de casa é, também, um fator que afeta bastante a rotina doméstica, e nem sempre a escola se dá conta disso.

Notamos que, nos últimos tempos, há muitas escolas aumentando as exigências quanto à lição de casa, o que significa aumento de tarefas para os pais. Por quê? Porque, para elas e para os pais, há uma relação clara entre a execução das lições pelos estudantes e o bom rendimento escolar. Mas essa equação está muito mais baseada no senso comum do que em estudos e pesquisas.

Há mais contradições do que consenso no campo da educação com relação à necessidade de lição de casa. Dou dois exemplos: por que há bons alunos –pelo menos na concepção da escola– que não fazem suas lições? E por que há escolas que aboliram a lição de casa, e seus alunos aprendem e, inclusive, passam nos exames nos quais necessitam passar?

A lição de casa não precisa ser, necessariamente, abolida pelas escolas, mas pode ser repensada. Por exemplo, deixar de ser uma responsabilidade do aluno, que ainda não tem condições de arcar com ela sozinho, sem a ajuda da família; ser mais provocativa e desafiante do que burocrática; não ser obrigatória diariamente.

Em que idade o aluno consegue assumir seus deveres sem tanta interferência da família? A partir da adolescência. Por que insistimos em cobrar isso das crianças?

Já que a lição de casa é uma questão de parceria, por que as escolas e as famílias não decidem juntas essa questão?


ROSELY SAYÃO é psicóloga e autora de "Como Educar Meu Filho?" (Publifolha)

 

 
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