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UDEMO | 19/04/2016 9:03| Atualizado em 28/04/16 9:18


Matéria publicada na Folha de São Paulo, 19 de Abril de 2016.

Mães são influenciadas pelo que acham que será o julgamento do outro

Já faz tempo, muito tempo, que as crianças passaram a ter uma vida semelhante à dos adultos: agendas lotadas, compromissos sociais frequentes e exigências desmedidas, que passaram a provocar situações de estresse, tensão, ansiedade, sintomas físicos de fundo emocional etc.

As crianças não mais vão a festas de colegas e amigos porque gostam deles: vão porque todos vão e porque sentem que é um compromisso. Esse é um dos motivos que tem provocado, nessas festas, tantas confusões e brigas entre eles.

As crianças não mais estudam para aprender: fazem isso para ter altas notas, para saber realizar uma prova em um tempo determinado, para "treinar" para futuros exames considerados fundamentais.

Em vez de brincar na piscina, aprendem a nadar estilos diversos; em vez de andar de bicicleta ou jogar bola, tênis de mesa ou jogos de tabuleiros, são matriculados em cursos e aprendem a competir em vez de cooperar. Não é à toa que tantas crianças têm sido medicadas, fazem tratamentos, sofrem com doenças psicossomáticas.

Esse movimento de pressionar as crianças até o limite -às vezes além dele- mereceu muitos estudos acadêmicos e investigações jornalísticas. Um livro que falou diretamente aos pais a esse respeito e os alertou sobre os riscos dessa louca corrida para lugar nenhum foi "Sob Pressão: Criança Nenhuma Merece Superpais", de autoria de Carl Honoré.

Já percebemos alguns efeitos de tantos estudos. Muitas escolas aumentaram o tempo do intervalo do ensino fundamental; na educação infantil, diversas instituições têm adotado o brincar como metodologia e eliminado as apostilas (?!) para as crianças; e muitas famílias têm diminuído a carga de compromissos dos filhos. Mas ainda é pouco.

Entretanto, hoje quero chamar a atenção para a louca corrida competitiva e extrema pressão a que muitas mães estão se submetendo. E é importante lembrar, nessa questão, que a sociedade pressiona, mas as mães aceitam a pressão. Elas precisam se libertar disso, em nome dos filhos. Muitas mulheres acreditam não mais ter a liberdade de escolher o tipo de festa de aniversário que querem para os filhos, por exemplo. Mesmo que seja uma festa "alternativa", ela precisa ser perfeita ao olhar do outro, ou melhor, das outras mães. E nunca é, concorda, caro leitor?

Diversas mães com quem conversei consideram exagerada a pressão que a escola coloca sobre os filhos, mas não conseguem trocar de escola pela opinião de familiares e de pessoas de seu círculo social, mesmo percebendo com clareza os prejuízos que isso acarreta às crianças. Até para escolher as atitudes formativas a serem tomadas com os filhos, das mais simples às mais complexas, muitas mães são influenciadas -e quase sempre percebem isso- pelo que pressentem que será o julgamento do outro.

Vamos liberar as mães para que façam as suas próprias escolhas?

Cara mãe: você pode fazer a festa que desejar para seus filhos, pode transferi-los de escola, caso perceba que eles não estão bem onde estão, pode tomar a atitude educativa que quiser, se ela for respeitosa com a criança em sua etapa de vida. Educação familiar é isto: escolhas feitas considerando as tradições do grupo, seus valores, seus princípios.

Para as mulheres que têm filhos e que buscam a perfeição: vocês não precisam jogar tanta energia fora, porque essa meta é inatingível! 


ROSELY SAYÃO é psicóloga e autora de "Como Educar Meu Filho?" (Publifolha)

 

 
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