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UDEMO | 08/04/15 15:49| Atualizado em 8/04/15 15:50


Matéria publicada na Folha de São Paulo, 7 de Abril de 2015.

Persistência na educação dos filhos

ROSELY SAYÃO

Vivemos numa época bem complexa para os mais novos e os seus pais. Nunca as contradições foram tão intensas: se, por um lado, os pais declaram o amor incondicional aos filhos e os tornam o centro da vida familiar, por outro lado, testemunhamos uma enormidade de queixas desses mesmos pais em relação às crianças e aos adolescentes.

Todo mundo já ouviu algumas frases ditas por adultos que têm filhos -ou que se referem a eles- do tipo: "Meu filho tem um problema", "Não sei mais o que fazer", "Eu já fiz de tudo, não tem jeito", "A escola tem reclamado muito do comportamento dele", "Nós pais estamos perdidos", "O que eu faço?", "Devo procurar ajuda profissional?" etc. Vamos tentar entender alguns pontos dessas questões.

Primeiramente: ter filhos, hoje, para muitos adultos, não deveria trazer problemas, dificuldades, dúvidas e renúncias, e sim delícias, prazer, satisfação e desfrute. Ocorre que, quem tem filhos, por mais ou menos uns 20 anos -às vezes mais- irá enfrentar percalços, consigo mesmo e com os filhos; terá de fazer escolhas e se defrontar com dilemas e perguntas que não têm respostas certas e que se transformam à medida que os filhos crescem, mas que permanecem.

Ora é o sono, a birra, a agressividade descontrolada e a recusas às regras familiares; ora é o estudo, a difícil aprendizagem das letras e dos números, a alimentação e a vida social; ora é a balada, o sono sempre desregrado, a bebida alcoólica e outras drogas, e assim por diante.

Então, senhores pais, é preciso aceitar o fato de que sim, eles dão e darão trabalho por motivos simples: recusam o mundo adulto ao qual são sujeitados, precisam experimentar e testar suas possibilidades e, portanto, desobedecer, por exemplo. E, acima de tudo, porque cada um deles é singular, muito diferente do filho ideal que aprendemos a querer ter.

E é exatamente por esse motivo que receitas não costumam funcionar. Ou até funcionam temporariamente, mas as questões que eles nos trazem sempre retornam, de um jeito ou de outro. Mais do que buscar respostas indicadas para esta ou aquela questão, é preciso olhar de perto e de olhos bem abertos cada um dos filhos para que, conhecendo-os, seja mais possível buscar soluções às questões que eles apresentam. E, mesmo assim, saber que as soluções que encontrarmos nunca serão mágicas.

Educar é um processo contínuo e isso significa que os resultados das estratégias que usamos com os mais novos podem não ser imediatos

ou rápidos. Mas persistir por um tempo é o que irá mostrar se podem funcionar ou não.

Caso se constate que a estratégia escolhida não funcionou, é preciso criar outra maneira de abordar a questão. Manter-se potente na função de mãe e de pai não combina com as frases "Não sei mais o que fazer" ou "Não tem jeito". Sempre há outras saídas possíveis. Sempre.

Outras questão importante é que, hoje, mães e pais se percebem julgados como bons ou não no exercício de seus papeis de acordo com o comportamento, performance escolar ou escolhas dos filhos. É preciso resistir bravamente a isso.

Ser uma boa mãe ou um bom pai tem a ver com o vínculo estabelecido com o filho, a dedicação a ele, a disponibilidade para enfrentar as questões que ele, cotidianamente, apresenta, sem esmorecer, sem desistir.

Ser uma boa mãe ou um bom pai tem maior relação com resiliência do que com o comportamento do filho. 


ROSELY SAYÃO é psicóloga e autora de "Como Educar Meu Filho?" (Publifolha)

 

 
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