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UDEMO | 17/03/15 09:44| Atualizado em 24/03/15 11:52


Matéria publicada na Folha de São Paulo, 17 de Março de 2015.

Adolescência em família

ROSELY SAYÃO

A vida dos pais com filhos na adolescência pode ser bem difícil. Tenho ouvido relatos e pedidos de ajuda quase desesperados de muitos deles por motivos diversos, mas que, quando cotejados, apontam para um eixo importante: a falta de compromisso dos filhos com a família.

Alguns jovens saem de casa no final de semana e não dizem aonde vão, com quem vão e quando voltam, apesar dos apelos dos pais que apresentam muitos argumentos, inclusive o da segurança. Nada os comove: vão e voltam quando bem entendem e nem sequer se incomodam com a preocupação dos pais.

Continuam desfrutando de todas as benesses da família, como se nada tivesse acontecido.

Outros adolescentes "pegam" dinheiro dos pais sem pedir e, quando são questionados, negam que tenham feito isso e continuam a agir normalmente em casa.

Há também os que exageram na bebida alcoólica, chegam em casa alterados e são advertidos, aconselhados, orientados, punidos, mas não se sensibilizam e repetem, todo final de semana, essa atitude.

Da mesma maneira agem os que já foram surpreendidos com drogas ilícitas, fato que eles negam –mesmo com os pais com a prova em mãos–, dando um ponto final na conversa. Assim, sem mais nem menos, tratando os pais como bobos.

A forma de levar os estudos também se transforma em um grande problema. E não se trata de o filho ser ou se tornar bom aluno no conceito da escola. Não, o caso é mais sério. Os jovens simplesmente agem como se frequentar a escola e seguir em frente com o estudo –algumas vezes bem, muitas outras mantendo a média e outras sem aprender quase nada– não fosse responsabilidades deles. Faltam muito, esquecem as tarefas e as datas das provas, e não se envergonham de seu comportamento.

Vamos reconhecer: passar pela adolescência, no mundo contemporâneo, não é fácil para os filhos. Eles sentem toda a pressão social em relação à aparência, para que sejam felizes, para que sejam apreciados por muitos de seus pares e para que estejam sempre conectados com o mundo virtual. Isso sem falar das relações amorosas e da alta performance na vida sexual. Ufa! São muitas as demandas que eles acreditam precisar atender para ter lugar no mundo, e buscam soluções por todos os lados para tanto.

Também é importante lembrar que, nessa etapa da vida, as descobertas, as transgressões, a adesão a grupos ou tribos e a busca da popularidade a qualquer custo são quase inevitáveis. Por isso, sempre se devem esperar turbulências quando os filhos são adolescentes.

Mas uma coisa bem diferente é dar-se conta de que o filho não percebe que pertencer a uma família exige compromissos: com os outros integrantes, com seu papel no grupo, com a vida em comum. Ensinar ao filho esse ponto vital começa quando ele ainda é pequeno. Todos os filhos podem aprender a ter responsabilidade para preservar e honrar o seu lugar no grupo familiar.

Essas responsabilidades podem ser, entre outras: práticas, como colaborar com as tarefas domésticas; morais, no sentido da consciência dos deveres para com todos do grupo; afetivas, que apontam como prioridade não prejudicar emocionalmente os integrantes da família.

Na adolescência, os filhos podem negar todo esse aprendizado. Aí, é preciso sustentar os ensinamentos a todo o custo.

Senhores pais: é preciso bancar, mesmo no conflito e com alto custo emocional, esse período de vida dos filhos. É pelo bem deles. 


ROSELY SAYÃO é psicóloga e autora de "Como Educar Meu Filho?" (Publifolha)

 

 
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