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UDEMO | 03/12/14 10:40 | Atualizado em 3/12/14 10:42


Matéria publicada na Folha de São Paulo, 25 de Novembro de 2014.

Guarda compartilhada

ROSELY SAYÃO

Uma publicação que tem feito muito sucesso no Facebook pode nos ajudar a pensar questões importantes que dizem respeito às crianças (notadamente as pequenas), às mães e, principalmente, aos pais.

Ela faz uma referência ao filme "Procurando Nemo", que é uma animação maravilhosa, produzida há mais de dez anos, que fez, e ainda faz, o maior sucesso entre públicos de todas as idades.

Ele conta a história de dois peixes -pai e filho- que se perdem um do outro. O filme narra a saga do pai à procura de seu filho, que, capturado, vive, distante de seu pai, uma vida plena de aventuras.

Mas, voltando à publicação, sobre uma imagem que permite reconhecer Nemo, uma frase curta se sobressai. Ela diz: "Se fosse a mãe procurando Nemo, o filme teria menos de cinco minutos". Não é curioso que essa postagem começasse a repercutir pela rede social justamente quando o Senado debate a questão da guarda compartilhada?

Múltiplos fatores explicam o pensamento, que parece ser da maioria, de que a mãe cuida mais e melhor do filho do que o pai e que, portanto, quando o casal se separa, é melhor para a criança ficar com a mãe e receber o pai como "visita".

Até meados do século 20, a função do homem na família era a de provedor material, e a da mulher, a de provedora de cuidados. Mas, depois da década de 1960, em que costumes, padrões de comportamento e estilos de vida passaram a mudar, os papéis sociais, tanto da mulher quanto do homem, mudaram também e, consequentemente, os de mãe e de pai.

A família mudou e continua a mudar, precisamos reconhecer. Nenhum adulto abre mão do direito de se divorciar e de refazer sua vida amorosa com outra pessoa, caso sua união seja motivo de infelicidade e desgosto ou a vida lhe apresente uma possibilidade melhor.

Mas há filhos, em geral, pequenos. As uniões têm seguido tanto o padrão de consumo a que aderimos -consumir e descartar- que as relações afetivas andam frágeis e voláteis. Não é raro casais que se separam em pleno desenvolvimento da gravidez. Por isso, precisamos ser mais generosos com as crianças.

Precisamos garantir aos filhos o direito de conviver com seus pais e, aos pais, o direito de acompanhar o desenvolvimento de seus filhos. Mas há resistências em relação à guarda compartilhada, e a frase que roda na internet explica um pouco isso. Muitas mulheres me dizem ser contra essa alternativa, mas não ouço delas bons argumentos.

Ainda consideramos que o direito do filho é o de ficar com a mãe. Há quem acredite, caso a criança tenha duas casas, que sua vida não será boa o bastante para garantir seu desenvolvimento saudável. Por que não? Deixamos muitas crianças na escola por mais de oito horas por dia, e não vemos mal nenhum nisso.

Faz tempo que muitos homens descobriram que podem querer e gostar de cuidar do filho. Mas nem todas as mães aceitam que o pai consiga executar bem essa tarefa.

Muitos homens, cara leitora e caro leitor, lutam para se aproximar do filho e só encontram obstáculos, inclusive legais. Você já se perguntou se o afastamento do pai faz bem à criança?

Já é hora de aceitarmos, pelo bem das crianças, a guarda compartilhada como benéfica, e não prejudicial. 


ROSELY SAYÃO é psicóloga e autora de "Como Educar Meu Filho?" (Publifolha)

 

 
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