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UDEMO | 21/11/14 10:37 | Atualizado em 24/11/14 10:40


Matéria publicada na Revista Época , 11 de Novembro de 2014.

Amanda Ripley: “Na educação, importa mais como gastamos do que quanto gastamos`

DA REDAÇÃO

A jornalista americana especializada em educação passou um ano investigando o sucesso dos países que têm os melhores alunos do mundo

A jornalista americana Amanda Ripley diz que se esquivava quando algum editor pedia para ela escrever reportagens sobre educação. Achava que eram textos inconsistentes, sem informações precisas, científicas e estatísticas. “Sentia que faltavam evidências sobre o que era escrito”, afirma. Até que precisou apurar uma reportagem sobre a polêmica reforma educacional da cidade de Washington e descobriu um mundo de dados e especialistas que explicavam muito da realidade educacional de seu país - embora estivesse longe de explicar porque os EUA, depois de tantos esforços financeiros e intelectuais, não era mais a potência educacional mundial. Decidiu então investigar os segredos das novas superpotências educacioanis mundiais e passou um ano conversando com gestores, diretores, professores e alunos na Finlândia, Polônoia e na Coréia. O resultado é o livro As crianças mais inteligentes do mundo – e como elas chegaram lá, lançado no Brasil em novembro (Editora Três Estrelas). Hoje, Amanda escreve sobre educação para revistas como Time e The Atlantic.

ÉPOCA - Qual o papel do professor nas reformas educacionais da Finlândia, Polônia e da Coréia?

Amanda Ripley - O professor é o segredo de todas elas.

ÉPOCA - O professor é talvez o fator mais difícil de mudar, especialmente em grandes sistemas, como o do Brasil. Por onde começar?

Amanda - A maneira mais elegante de elevar a carreira de professor é começar do começo: reformar as faculdades que formam os professores. Os países com as crianças mais inteligentes do mundo transformaram seus cursos de formação de professores em cursos muito seletivos e rigorosos. Deram aos estudantes de pedagogia muito tempo para praticar suas habilidades em sala de aula antes de se tornarem professores e assumirem suas próprias classes. E, uma vez professores, eles têm tempo, todos os dias, de observar as aulas dos colegas, de dividir planos de aula e soluções de problemas.

Quanto mais seletivo e rigoroso é a formação dos futuros professores, melhor é o sistema educacional.

ÉPOCA - A Finlândia, Polônia e a Coréia, países sobre os quais a senhora escreve, tinham sistemas educacionais muito diferentes entre si antes de cada reforma. Cada país tomou caminhos diferentes para chegar a potências educacionais. O que há de comum entre essas reformas que poderia servir de inspiração ou lição para outros países?

Amanda - As novas superpotências educacionais mundiais são muito diferentes entre si, mas têm algumas coisas em comum. Além de levar muito mais a sério a preparação dos professores, eles também investiram muito pesado na educação infantil. Distribuíram melhor os investimentos (baseando-se nas necessidades maiores ou menores de cada estudante) e estabeleceram e cobraram, de forma mais coerente e clara, as metas de aprendizado em cada série. Todas essas mudanças, feitas em conjunto, ajudam a aumentar as expectativas para todos os alunos e torna mais clara as prioridades para os professores e pais.

ÉPOCA - A senhora diz que é um mito que mais dinheiro significa melhor educação. Por que?

Amanda - Depois de um certo nível de financiamento, mais dinheiro não parece fazer diferença para melhorar o aprendizado. Nos EUA, nós dobramos o gasto por aluno nas décadas recentes, mas quase não houve melhora no aprendizado dos alunos do ensino médio. Se os EUA pudessem ter um sistema educacional melhor apenas com dinheiro, nós já teríamos feito isso há muito tempo. A Noruega é outro exemplo. É um dos poucos países que gastam mais dinheiro por aluno do que os EUA, com resultados pouco expressivos. É uma frustrante realidade: em educação, como gastamos o dinheiro importa mais do que quanto gastamos. A qualidade dos gestores, da formação dos professores, de como os pais ajudam os filhos – isso importa mais do que só o dinheiro.

 


 

 

 

 
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