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UDEMO | 24/10/14 15:07 | Atualizado em 24/10/14 15:09


Matéria publicada na Folha de São Paulo, 21 de Outubro de 2014.

Profissão e ganho financeiro

ROSELY SAYÃO

Quem tem filho no ensino médio, prestes a escolher um curso universitário, preocupa-se com o bem dele no futuro e tenta orientar o jovem, confuso com o enorme leque de escolhas que se amplia dia a dia.

Os pais apontam as profissões que eles consideram ter mais chances de colocação e de remuneração. Mas, num mundo que prioriza o consumo e, portanto, o ganho financeiro, isso limita demasiadamente a cabeça de muitos jovens.

O que eles, os estudantes, pensam ser importante na hora da escolha do curso universitário? Fiquei com essa pergunta depois de ouvir um grupo de adolescentes que fará vestibular neste ou no próximo ano.

Conversei com muitos outros na mesma situação e também com adultos que convivem com eles: pais, professores e outros profissionais. Vale a pena olhar para essa questão com cuidado e delicadeza, porque somos nós que, direta ou indiretamente, influenciamos o modo como pensam, talvez sem ideia de como isso possa se reverter contra eles próprios.

Sabemos qual ponto eles priorizam: a viabilidade profissional, pois entendem ser a possibilidade de trabalho que se reverte em benefícios financeiros. Ganhar dinheiro: é isso o que lhes interessa. É compreensível, já que a função básica do trabalho é oferecer a subsistência necessária na vida. Mas eles querem muito, muito dinheiro.

Os adolescentes manifestam interesses em todas as áreas de conhecimento: exatas, biológicas, humanidades e artes. Mas aí começa a confusão provocada pela nossa escolha social de priorizar, desesperadamente, o consumo.

Eles afirmam que, como os pais não concordam com as escolhas que parecem não render um bom dinheiro no futuro próximo, rapidamente eles abdicam do que é de seu interesse e gosto para se render às indicações da família. Adivinhe quais as profissões sugeridas pelos pais: engenharia, medicina, direito, administração e outras que já fizeram sucesso décadas atrás.

Perguntei se os jovens achavam que essas profissões lhes dariam garantia de boa remuneração e trabalho. Resposta quase unânime: sim! Em que mundo eles vivem? Ou melhor, em que mundo os fazemos acreditar que vivem, caro leitor?

Quando questionados sobre qual é o segundo ponto mais importante a ser considerado, logo após o de ganhar dinheiro, não tiveram como dar resposta. Para a maioria deles, não há plano B, segunda alternativa, outro critério ou possibilidade. É só essa, e ponto final.

Insisti: se não for por rendimento e empregabilidade, quais seriam outras maneiras de escolher uma carreira? Sugeri a eles o autoconhecimento e perguntei o que achavam disso. Encontrei espanto, surpresa e desconhecimento total sobre como isso poderia colaborar na escolha que farão. É como se eles não estivessem em jogo nessa escolha!

Dá para entender por que há tanta desistência nos primeiros anos das graduações, por que há tantas dúvidas na hora da escolha, por que há tanta dificuldade em terminar a faculdade e por que é pequeno o número de jovens que acreditam que conseguirão concretizar seus sonhos e projetos?

Precisamos encontrar maneiras de ajudar o adolescente a substituir o centro dessa questão: no lugar da busca financeira, é ele, o estudante e futuro profissional, quem deve assumir essa importância.


ROSELY SAYÃO é psicóloga e autora de "Como Educar Meu Filho?" (Publifolha)

 

 
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