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UDEMO | 19/09/14 15:00 | Atualizado em 19/09/14 15:15


Matéria publicada no Portal UOL EDUCAÇÃO , 09 de setembro de 2014.

Em busca de boas práticas de educação, jovem percorre 58 cidades em 6 meses

MARCELLE SOUZA

Assim que concluiu a faculdade de jornalismo, Caio Dib, 23 anos, deixou o emprego, pegou a mochila e decidiu partir para uma aventura pessoal e profissional. Não procurava aprender outra língua nem conhecer outro país. Viajou quase seis meses por 15 Estados brasileiros e o Distrito Federal em busca de práticas educacionais inspiradoras.

`Em um momento de minha vida, não via mais sentido em ficar mais tempo dentro do escritório do que conhecendo essas diferentes realidades e conversando com pessoas`, afirma Dib, que atualmente dá consultorias e palestras.

Antes de sair de São Paulo, consultou amigos e usou a sua própria experiência em institutos de educação para mapear mais de 70 cidades. `A ideia inicial era que a viagem durasse três meses, mas, para o desespero da minha mãe, fui ampliando e fiquei seis meses na estrada`, diz.

A lista de escolas mudou muito durante as suas andanças e, no final, o percurso teve 58 municípios. Aos poucos, percebeu que as pessoas que conhecia pelo caminho poderiam indicar experiências tão ou mais interessantes do que as mapeadas no início da viagem. `Fui sozinho, mas pouco tempo eu fiquei sozinho de verdade`, afirma.

`Eu não tinha filtro quando saí daqui. Podia ser escola pública, privada, pré-escola ou educação de jovens e adultos. Eu queria encontrar coisas que vão além do óbvio`.

Deixou de lado os indicadores de qualidade, como o Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica), e foi atrás de iniciativas que tinham impacto não só na escola, mas também nas famílias e na comunidade. `Eu busco praticas que façam a diferença na vida das pessoas`.

As práticas foram escolhidas de acordo com três critérios: trabalhar de maneira equilibrada com conteúdo e desenvolvimento real para a vida, realizar trabalhos que impactem pessoas dentro da escola e na comunidade e ter relacionamento com a realidade local.

Histórias viraram um livro

Assim que voltou, Dib montou um site, que tem um mapa com as escolas visitadas, e acaba de publicar o livro `Caindo no Brasil`, que reúne 13 práticas inspiradoras –nove instituições e quatro histórias de pessoas envolvidas com a educação.

`Uma das [práticas] que mais me chamou a atenção foi a Vivendo e Aprendendo, em Brasília. É uma escola associativa de educação infantil que trabalha muito com o aprendizado a partir da vivência e da relação com o outro`, afirma. `É uma escola que desenvolve futuros adultos conscientes e com habilidades e competências que a sociedade demanda, como trabalho em equipe, empatia, responsabilidade, autonomia`.

No caminho, conheceu o Colégio Oficina, em Salvador, que desenvolve atividades para estimular o desenvolvimento da argumentação e do olhar crítico pelos alunos, e a Escola do Sesc no Rio de Janeiro, uma escola-residência que prioriza multiculturalidade e oferece cursos técnicos para estudantes do ensino médio. `Todas as iniciativas têm problemas, o grande negócio é ver as soluções`, afirma.

No livro, Dib conta também histórias de pessoas que conheceu durante a viagem. `A Dayse foi a primeira de sua comunidade a entrar na universidade e mostrou como é importante olhar todos os alunos como pessoas cheias de potencial. O Seu Luiz, analfabeto porque precisaria andar 2 horas para chegar na escola durante a infância, está ajudando a filha a concluir o ensino técnico (um salto educacional enorme em uma geração) e mostrou como os saberes populares e cotidianos são tão importantes quando as letras e números`.

A publicação só foi possível a partir de uma `vaquinha` virtual, em que Dib arrecadou mais de R$ 30 mil com a ajuda de 300 apoiadores. `A viagem foi feita por pessoas. Se não fossem as dicas, os cafés, toda a colaboração on e off-line, não seria como foi. Quis fazer uma campanha de financiamento coletivo justamente para enfatizar que a mudança acontece no plural`.

O dinheiro do financiamento também possibilitou a doação de um livro para cada Estado e o desenvolvimento de uma nova plataforma de mapeamento de boas práticas, que será lançada ainda no segundo semestre. `É preciso olhar para os bons exemplos, aprender com eles e fortificar as redes`, afirma Dib.


 

 

 

 
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